Coluna Folhas Soltas – por Geraldo Campos

EMBORA VIVAMOS tempos difíceis e assustadores, vendo seres humanos agirem como feras, sem a menor consideração e respeito pelo semelhante, há momentos em que brilha – ainda que bem pequena – a estrela da esperança por um mundo melhor. E, ainda que bem pequena, o brilho dessa estrela pode encher de luz um momento, torná-lo único, acender a chama da fraternidade, proporcionar-nos a grata satisfação de vermos que ainda vale a pena acreditarmos em melhores dias para a humanidade. Todo esse período por conta de um fato simples, embora pequeno em si, muito representativo, assim penso, do lado bom do ser humano, aquele que consegue se ver no outro. Vamos ao que interessa. Por ser leitor fanático, sempre carrego comigo um livro, e leio onde houver oportunidade, em casa, no ônibus, numa sala de espera, onde houver um minuto, lá estou com o livro aberto. E estava no ônibus lendo, ou tentando ler, devido à pouca claridade do final do dia. Já passava das seis da tarde e o resto de claridade exigia algum esforço. Quando eu estava para fechar o livro ouvi: “Acende a luz, o senhor está lendo e pode forçar a vista.” Virei-me. Era o cobrador pedindo ao motorista que acendesse a luz na parte da frente do ônibus para que eu pudesse continuar a leitura. Ao motorista, ele perguntou: “O reflexo da luz [no parabrisa do ônibus] atrapalha?”. O motorista disse que não. Ele voltou-se para mim: “Também gosto muito de ler. Livro faz bem a gente.” Claro que essa atitude do cobrador em nada afetou a mecânica celeste, não alterou a marcha do tempo e não teve qualquer efeito sobre o destino da humanidade. Afinal, não foi mais do que o ato de um homem que mostrou interesse pelo semelhante. Mas foi bastante para me mostrar que ainda há pessoas que, com total desprendimento, são capazes de se colocar no lugar do outro e tentar, no limite do que lhes é possível, ajudar sem esperar recompensa. Essa atitude independe de nível cultural, de profissão, de status social. Ao desembarcar, sem deixar de agradecer a ambos, levei comigo a certeza de que a humanidade pode ser bem melhor, que ainda vale a pena crer em dias de compreensão entre todos, que vale a pena esperar pelo dia em que haverá paz na Terra e, apenas, homens de boa vontade. Não hoje, não amanhã, mas um dia, com certeza…

 

Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.

 

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