Coluna Folhas Soltas – por Geraldo Campos

ÀS VEZES NOS SURPREENDE O FATO DE, mesmo tendo tantas coisas acontecendo ao redor não conseguimos transportar para o papel o que a realidade nos mostra, tudo aquilo que merece, realmente, registro. Seja algo que observamos na rua, ou que lemos em um jornal ou, ainda, o resultado de uma reflexão que nos leva a longas viagens pelo espaço infinito dos sonhos. Parece que o reino das palavras escritas reserva-se o direito de permitir o acesso apenas àqueles que têm o poder de dominá-las de forma incontestável. Que poder é esse que permite a alguém, como García Márquez, por exemplo, criar uma obra ficcional tão extensa? São mais de 25 títulos, considerando suas obras mais importantes, sem contar as crônicas e os textos reunidos nas intituladas obras periodísticas. Será apenas a imaginação? A criatividade? Não só. Junto a essas duas há uma familiaridade com as palavras que lhe permitiu criar e recriar espaços de ficção que, por vezes, são mundos próximos ao real. Tal como ele, são muitos aqueles cujas obras somam milhares de páginas que encantam, deleitam ou assustam. Estes mestres da arte da escrita são os portadores do mágico dom de dominar as palavras, sabendo, à perfeição, como utilizá-las de modo a construir sonhos. E o que dizer de nós, leitores, que nos deixamos transportar para os mundos aos quais eles nos levam? Também temos certo poder sobre as palavras, pois, embora nos seduzam, elas nos permitem acesso ao espaço mágico da literatura. Sempre as coloco no mesmo nível: a palavra escrita e a leitura, e não apenas uma como construtora da outra. Porém, não me refiro à leitura descomprometida, ao passar os olhos e virar páginas, ao ato reflexo de reunir letras. Falo da leitura que transmite conhecimentos, vivência, que leva à reflexão sobre nós e o mundo que nos cerca. Pensar sobre a realidade em que vivemos é fundamental. Uns mais, outros menos, não há um só dia em que não voltemos os olhos para o passado (ou para o futuro) para refletirmos sobre nós mesmos e, de modo crítico, para a realidade em que vivemos. A leitura não apenas abre as portas da imaginação; não apenas nos leva ao mundo da ficção. Ela é o meio que temos para tentar construir um mundo no qual a comunicação sirva para construir, pela via da educação, do amor pela leitura, da busca pelo conhecimento, um mundo melhor.

 

Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.

 

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