Coluna Folhas Soltas – por Geraldo Campos

ENTREOUVIDO EM UM ÔNIBUS: “se eu tivesse dinheiro ia embora deste país.” E esse, sabemos, não é um caso isolado. Não poucas vezes ouvi esse desabafo e tenho certeza de que vou ouvi-lo muitas outras vezes. Respeito o direito que todos têm de desabafar, de externar o que lhes incomoda. Mas reservo-me o direito de não concordar, especificamente, com as palavras do passageiro desesperançado. Ir embora? Muitas pessoas pensam em mudar-se para o exterior levando em conta, principalmente, a questão pessoal. Têm certeza (ou quase) de que terão uma vida melhor. Mas que garantia têm disso os que assim pensam? Por que eles viverão melhor em outras terras? Não é esse o caminho. A mudança, qualquer que seja, em nível individual ou coletivo, exige determinação, esforços, persistência e, em algumas situações, muita luta. E não se trata de conflitos de rua. Falo da luta contra uma estrutura viciada corrupta, antiética e imoral como o quadro político com que nos defrontamos hoje. Ir embora, virar as costas, renunciar à luta é algo que se assemelha ao egoísmo e à covardia. Outros países passaram por uma situação tão ou mais caótica que a do Brasil de hoje, mas, graças à tenacidade do povo, conseguiram se recuperar e voltar ao caminho do desenvolvimento. A Argentina, que atravessou gravíssima crise político-econômica que afetou a vida do país durante a década de 1990 e início da década de 2000, é um bom exemplo de uma revolta popular que, em 12 dias, defenestrou quatro presidentes (Fernando de la Rúa, Ramón Puerta, Adolfo Rodríguez Saá, Eduardo Camaño). Por que não nos dedicarmos – cada um em seu espaço de atuação – à conscientização dos que nos cercam quanto às mais eficientes formas de revolta: o voto consciente e a desobediência civil. Ações que mostrem aos autodenominados representantes do povo que a sociedade não está mais disposta a suportar os descalabros, a orgia de corrupção, a falta de ética e o desrespeito que essas excelências têm para com a população. Fugir não é a solução ideal. Em nível individual, fica o travo amargo da covardia; em nível coletivo, perde-se o direito de reclamar direitos pelos quais não se fez qualquer esforço para defender. Ficar e lutar é o caminho ideal, e a esperança dos que amam este país é que, um dia, que, esperamos, não esteja distante, estes tempos serão lembrados como o caminho que jamais deverá ser retomado.

 

Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.

 

 

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